quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A árvore que dá bom fruto!

O desfile de 2010.
A postagem de hoje vem tentar dar alívio ao meu coração. Espero, ao correr das linhas, conseguir extravasar a tristeza de anunciar o término do quadro de mestres-sala e portas-bandeira mirins da Grande Rio. Uma das alas mais tradicionais da Escola realizou no carnaval de 2010 seu último desfile. Curiosamente, por brincadeira do acaso, no carnaval que passou eles representaram a ida da tradição e do aprendizado do samba para o futuro do que poeticamente seria o amanhã de um carnaval nas estrelas.
A tristeza desse anuncio é de fácil explicação. Ela provém do fato de que eu pertenci, e iniciei minha vida no samba ali. Para mim, fruto gerado e bem cuidado pelo mesmo, celeiro de onde sai, local onde aprendi as primeiras lições, torna-se um pouquinho mais dolorido entender o término do que sempre foi motivo de orgulho. No próximo carnaval, minhas meninas e meninos não estarão na Avenida carregando junto a mim, mais de uma dezena de pavilhões, que aos meus olhos, eram os herdeiros do que eu carregava com orgulho.
Desfilar o próximo carnaval sem ter no corpo da Escola a presença do quadro irá me fazer falta. É como se parte do que eu sou não estivesse comigo. O quadro sempre foi o passado diante de meus olhos. Uma oportunidade rara que me possibilitava enxergar o que eu fui de maneira viva. Era como se eu me olhasse!
Eu fui uma aprendiz. Uma menina que aprendeu o que sei. Não nasci sabendo... só aprendi porque houve quem me ensinasse. Quem quisesse passar adiante o ensinamento do que era ser “uma porta-bandeira.” Ensinamento este que aprendi naquele quadro onde a voz do professor e mestre-sala Edson Jorge, chamado por nós “Edson de Niterói” – me conduzia e direcionava; onde a doçura da D.Gina me incentivava e me acolhia; onda a sabedoria do Sr Marcos me fazia ir a frente sem medo.
Não considero o quadro importante apenas para mim. Ele não era importante só para mim, ou para a Renata – segunda porta-bandeira da Agremiação, ou para Jéssica – terceira porta-bandeira – todas, filhas de seus ensinamentos.
O quadro era importante para a Escola. Para quem não conhece a história da Agremiação, informo que o projeto estava presente no corpo de sua estrutura desde o principio, e que desta "árvore," plantada e cultivada com carinho por seus dirigentes, a Escola de Caxias mostrou para o mundo do samba que, com o cultivo do aprendizado de tradições legítimas, podíamos manter a capacidade de nos tornarmos exemplo e referência.
O quadro sempre foi concorrido entre os jovens não só de Caxias, mas por jovens de outros municípios. Sempre serviu como um bom incentivo para crianças e adolescentes que ali se encontravam. Ali, enxergávamos a possibilidade real em realizarmos os nossos sonhos. Víamos que a nossa escola, ao contrário da maioria, sempre recorria ao quadro para formar seus 1º, 2º e 3º casais, dando exemplo de respeito e valorização dos esforços da comunidade.
Nele, grande parte dos jovens aprendiam. Aprendiam os caminhos da arte da dança, encontravam a possibilidade de experimentarem a experiência artística, mantinham contato com uma rica tradição cultural pautada na continuidade da legitimidade de nossos antepassados. No quadro, o termo “Escola de Samba” ganhava sentido. Se “escola” é onde se ministra o saber; nos ensinamentos do quadro, a “Escola” se fazia “Escola.” A cada rodopiar, a cada passo de um pequeno mestre-sala, a cada cobrança de postura, a cada exigência de elegância, a cada chamada de atenção...as meninas e os meninos estavam dando sentido real para o termo “Escola de samba.”
Uma árvore forte, onde a colheita de frutos sempre foi fértil. Ao longo de sua existência, ele rendeu um número sem fim de jovens, hoje homens e mulheres que levam o que aprenderam para além de Caxias.
Frutos generosos, cultivados no chão da Grande Rio e que foram amadurecer em outros quintais. Frutos que hoje se encontram defendendo pavilhões de outras Escolas. Frutos como Cíntia, até pouco tempo, 1ª porta-bandeira da Porto da Pedra; frutos como Verônica, 1ª porta-bandeira da Imperatriz; como Jefferson, 2º mestre-sala da Portela; como Peixinho, 1º mestre-sala da Inocentes de Belford Roxo... e porque não, frutos como os três casais que formam a trinca que defenderam os pavilhões que a Agremiação de Caxias vai levar para a Avenida em 2011?
Frutos da Grande Rio...orgulhos da casa.
Para o próximo carnaval, antes de encerrar a colheita, a Grande Rio recorre mais uma vez à sua "árvore" para colher mais três bons frutos. Em 2011, Luis Felipe estreará junto à Douglas e Luan, respectivamente 1º, 2º e 3º mestres-salas da Escola, dando continuidade a uma história que se interrompeu em 1996.
Dos seus 22 anos de vida, a Grande Rio, em 15 anos, sempre teve como guardiões de seu pavilhão, um de seus filhos. Isso foi assim em 1995, com Rodrigo e Cíntia; em 1996, com Rodrigo e Graciléia (sendo este o último ano em que a escola teve "seus filhos criados" defendendo o seu pavilhão); em 1999 e 2000 com Verônica dançando com Ronaldinho; em 2001, com Verônica e Sidclei; e de 2002 à 2010, comigo, ao lado do Sidclei.
Após 14 anos, a escola será novamente defendida unicamente por seus filhos. Em 2011, os frutos da árvore chamada “Ala de Mestre-sala e Porta-bandeira Mirim”, estarão protegendo com amor e orgulho o pavilhão da escola que podemos chamar de casa, e com a possibilidade de provarmos ao presidente Helinho de Oliveira, que as palavras por ele pronunciadas na ocasião da posse do Luis Felipe, são um ensinamento que o quadro nos legou: “Um filho, não trai sua mãe!”
Como podemos concluir, o quadro foi generoso com a Grande Rio até seu ultimo momento. Como prova de sua nobreza, ao tombar, ele ainda oferece três frutos. Em 2011 o quadro não estará presente junto a Escola, mas seus frutos levaram o pavilhão em sua memória! Os três casais que na Avenida estarão defendendo as cores de Caxias, são os frutos que relembrarão sua memória, e adoçaram os que nos virem passar!


Espero e farei o possível para que esta árvore mágica, que fez tantas crianças sonhar, logo possa despertar e assim semear cada semente que ali se encontre disposta a aprender. Aproveito e deixo um abraço especial a D. Catarina. Ela foi a última pessoa a passar seus ensinamentos aos jovens que ali estavam.

Um comentário:

  1. Uma pena =(
    Mas essa árvore hj deixou seus mais belos frutos, e concerteza vão fazer o melhor na avenida!
    Essa Árvore foi cortada, mas sua raíz ainda permanece.. um dia ela voltará!!

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