Um abraço pro Sidclei!

Carnaval 2010: Nossa última apresentação lado a lado.

Passado o carnaval, volto a deixar aqui coisas minhas, meus pensamentos e reflexões. Retomo minhas memórias junto a vocês e começo falando de algumas mudanças. Impossível voltar a esse espaço, sem falar dos últimos acontecimentos no meu campo de trabalho. Para o próximo carnaval, tenho um novo mestre sala! Porém, ainda não havia tido tempo para falar sobre o Sidclei neste espaço que criei. Não posso dar continuidade a esta nova fase, sem tocar no nome do meu parceiro de dança que durante quase 10 anos está marcado no meu oficio.

Ao lado de Sidclei iniciei inexperiente e busquei atenciosamente aprender cada instrução que me foi passada. Com ele, aprendi muita coisa em diversos campos do saber, e, sobretudo, no que diz respeito aos caminhos do samba. Há 11 anos, quando o Sidclei chegou na Grande Rio, a primeira porta-bandeira da época - a Verônica - não pode comparecer ao que seria sua primeira aparição para a comunidade e para os dirigentes da escola. Neste dia, eu que era a segunda, dancei pela primeira vez com Sidclei na sua apresentação para a comunidade de Caxias. Lembro também que o primeiro show dele como mestre-sala da escola foi ao meu lado, por obra do acaso, na festa da Ala Paixão Salgueirense.

Após 1 ano, pra ser bem específica, em 2001 na preparação para o carnaval de 2002, Verônica, por problemas particulares desligou-se do cargo e sem esperar assumi o posto de primeira porta-bandeira. Pra ser sincera, após ter me tornado a guardiã do pavilhão da minha escola, por algumas vezes comentei com o Sid que realmente "era para nós dois dançarmos juntos". Por que escrevo isso? Porque logo no nosso primeiro contato, logo nas primeiras apresentações dele como primeiro mestre-sala, eu fui a porta-bandeira com quem ele dançou, e desde o início, a nossa dança foi entrosada. Parecíamos ter que dançarmos juntos mesmo!

Momentos sempre marcantes para qualquer um de nós.

Sidclei, com maestria, me conduziu em nosso primeiro desfile juntos no ano de 2002 e, nosso convívio e entrosamento futuro possibilitou que nos conhecêssemos melhor e entendermos coisas que um simples olhar podia informar.

Compartilho aqui um dos meus desfiles mais emocionantes e nervosos ao lado do Sid: O do carnaval de 2004.

Tivemos inúmeros problemas até chegar na avenida, ou melhor, até sair da avenida! O percursso para o carnaval foi difícil e nossa fantasia foi um delírio de Joãozinho Trinta que não deu certo. A fantasia era pesada! A confecção atrasou! Pra piorar, faltando uma semana para o desfile, o carnavalesco mandou colocar esplendores na roupa e isso gerou uma série de desententimentos. Por que há uma semana do carnaval, com tudo atrasado, ainda tinha que arrumar um ferreiro que pudesse fazer os esplendores. Tudo atrasado, todos nervosos e muita coisa para ser feita.

No dia do desfile tudo dava errado! Tivemos que sair mais cedo do hotel e ir andando até a concentração onde encontramos os carros da escola cobertos e onde haviam problemas com o peso da fantasia das baianas que chegaram a ameaçar à não desfilar. Estávamos todos tensos...e com as bençãos de Deus, fomos encarar a avenida do jeito que tinha que ser.

Logo no primeiro jurado, no começo da nossa apresentação - e para quem não sabe, o camarote da Grande Rio fica ali ao lado da primeira cabine de jurado - o esplendor do Sid, voa! Assim, só escrevendo assim, o esplendor voou! Graças à Deus, o esplendor não esbarrou em mim. Nós só ouvimos as pessoas: Ahhh! - E eu só vi um negócio laranja passando por mim!

Continuamos a dançar e terminamos nossa apresentação. Ao sair do jurado, o Sid chorava muito e me vi tendo que ter uma força incrível para dar apoio à ele, afinal, ninguém podia chegar perto da gente, ali, era só eu e ele!

Passamos por muita emoção nesse desfile. O Sid chorava muito e eu ali compartilhando o sofrimento dele, enxugando suas lágrimas e avisando que mais uma cabine de jurado se aproximava. Foi um desfile tumultuado...triste, mas eu tinha que lembrar aqui dele, pois ao final do desfile, eu vi o homem Sidclei se transformar num menino e chorar feito criança. Sentei-me ao lado dele e dei o meu ombro para ele chorar enquanto eu segurava em suas mãos. Foi muito triste esse ano para nós dois, porém, serviu para nos aproximar como amigos, serviu para um confiar no outro e se ajudar ainda mais.

A partir dai, nos unimos ainda mais em busca do que era melhor para nós dois com relação à nossa parceria. Nosso trabalho e dedicação foi reconhecido e desde então, nossa dança se aprimorou a cada dia juntos.

Com o passar dos anos, nosso sonho em busca dos 40 pontos fez com que a nossa rotina mudasse, a nossa dedicação aos ensaios aumentou e assim o número e as horas de ensaios também aumentaram. Com isso, passávamos muito mais tempo juntos do que com as pessoas da nossa família e os amigos mais próximos.

Como todo casal que vive junto e divide algo, tivemos altos e baixos. Assim como todo casal brigamos, nos desentendemos, mas nunca ensaiamos brigados e nunca desejamos mal um ao outro. Nunca desfilamos brigados, sempre pedíamos juntos as bençãos de Deus! Íamos juntos à Igreja de São Judas Tadeu com o nosso diretor de harmonia Dudu que é devoto, e assim, nos levava sempre que possível para pedir proteção.

Para o carnaval de 2010 nossa rotina de ensaios aumentou, triplicou! Nossa dedicação em busca das notas máximas tão sonhadas que agora não são mais 40 e sim 50 pontos, nos deu a oportunidade de ficarmos mais juntos. Após muita dedicação, após passarmos juntos por problemas, um dando apoio ao outro, chegamos para fazer sem saber, o último desfile juntos após 9 anos de parceria.

Quis Deus que as coisas fossem assim! Fizemos nosso último desfile no sábado das campeãs, com o alívio de ter ajudado a escola! O Sid, então passado o desfile, resolveu sair da escola. Está no Salgueiro que é sua escola de coração!

Ao Sid desejo toda força que ele me mostrou ter ao longo de nossa parceria; a determinação que presenciei ao longo do ano que passou! Sorte e sucesso na sua escola, na sua casa! Realize teus sonhos e conquiste o que almeja ao lado da grande porta-bandeira e ser humano admirável que é Gleice Simpatia! Daqui de Caxias, mando meu abraço com "um tom de verde" para o mestre sala que agora volta a vestir "um vermelho e branco!"